quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Compilação do ano

Todos os anos saem para o mercado mil e uma compilações. Na era em que vivemos em que a música electrónica, especialmente em terras europeias, é altamente popular tornar-se muitas vezes difícil conseguirmos separar as verdadeiras Compilações de meras complicações. Basicamente o truque muitas vezes passa por procurarmos por aquelas editoras que sabemos que nos vão garantir à partida trabalhos de qualidade, ou então por DJ's que acompanhamos com algum cuidado e que sabemos que à partida não nos vão desiludir. Qual o grande problema disto? É que na prática muitas vezes não acontece. É cada vez mais frequente conseguirmos ter a sorte de ouvir algo a que possamos chamar de fresco, de inovador, algo que seja mais do que um mero ajuntamento e programação de boas faixas. Afinal isso qualquer dj minimamente talentoso faz. Felizmente há sempre excepções à regra. Não deixa de ser curioso que apesar de muitos novos talentos terem surgido no Djing mundial nos últimos anos, os grandes motores da reinvenção musical continuam a ser alguns daqueles que os media mainstream de música electrónica denominam de Superstar DJs (expressão mais panasca, mas enfim!). Nesse lote surge frequentemente um nome, John Digweed (deve ser das poucas coisas em que os media mainstream de música electrónica acertam! lol), e por algum motivo será.
Neste terceiro volume da série "Transitions" Diggers ("nick" pelo qual John Digweed é carinhosamente apelidado pelos seus mais fieis fãs por todo o mundo) volta a dar-nos um estalo na cara e a provar a muita gente que deu o Progressive House como estagnado, que a scene está tudo menos morta e que mais uma vez ele é o grande motor da reinvenção deste género (diga-se também de modo justo que a par do seu amigo Sasha).
Aquando do lançamento desta sua nova compilação em Setembro Digweed apresentou-o da seguinte maneira:

Musically speaking, I've been shifting through the gears over the series," he says "and we'’re now approaching top speed. This mix still represents an immediate snapshot of my favourite tunes and producers, but it's also about that specific energy you get at 3 or 4am at the best clubs or festivals around the world (...) Running the tracklist up so high was a conscious decision (...)it allowed me to generate that energy and atmosphere, which I further reinforced by creating exclusive edits.


A maneira como o apresentou parece simplista, mas quando perdemos 78minutos da nossa vida a ouvir esta compilação percebemos facilmente que é muito mais do que isto. Cada uma das 2o faixas desta compilação levou com um toque mágico, com edits meticulosamente trabalhados e que nos vão dando contínuas e falsas sensações de passagens ao longo de toda a viagem musical, transformando estes 78 minutos numa viagem épica simplesmente fenomenal. Ouvir esta compilação saltando da faixa 3 para a 8 ou da 2 para a 7 no leitor de cds não vale a pena. Para se "perceber" esta lição musical tem que se ouvir religiosamente todos os segundos da compilação.

A viagem musical começa com a nova faixa do seu amigo de longa data Sasha, denominada de "Coma" seguindo caminhos bem melancólicos e melódicos com Marc Marzenit "Spheere" e Sweet N Candy " partidas e editadas de uma forma absolutamente genial com Lawrence 'Along The Wire' (Superpitcher Mix). Quando pensamos que o ritmo irá continuar neste toada, aos 17 minutos e no meio destes edits referidos o ritmo começa a ganhar outra alma e forma. Daqui para a frente sobresaiem especialmente momentos brilhantes como a faixa Daniela Stickroth – Chest In The Attic editada com um toque melódico a transportar-nos para aquelas melodias completamente típicas do que apelidávamos de som de "rave" nos anos 90. Este espírito musical de "rave" vai-nos acompanhando no resto da compilação através de magistrais edits que vão ajudando a dar outra forma a sons predominantemente progressivos mas influênciados por minimal e por tech-house. Last but not least, quando damos por ela estamos a chegar ao fim da compilação e aqui Digweed volta a brindar-nos com outro momento literalmente do outro mundo, fazendo uma das sequenciações mais geniais que alguma vez ouvi na minha vida, entre a faixa Umek "Ricochet Effect" e a divinal "Save Me." de um dos novos talentos no campo da produção que John descobriu: Guy J. Aqui ouvimos literalmente estas duas faixas a fazer "amor" e a fundirem-se numa só de um modo absolutamente incrível só ao alcance de puros génios como John Digweed.


Concluindo, esta compilação é uma pura masterpiece! É mais do que uma compilação, é um Acontecimento! Obrigatório para qualquer fã que se preze de música electrónica. Quem não ouvir isto não faz ideia da dimensão por trás deste trabalho, pois o que aqui ouvimos é um processo de 3 anos em que Digweed reinventou-se a si prórpio e ao movimento Progressive. Estamos simplesmente na presença de um exemplo de dedicação ímpar para com o movimento electrónico. Digweed é daqueles Djs que podemos dizer que ditam "modas" musicais em vez de as seguirem, e isto mais do que nunca, faz toda a diferença.



Classficação:10/10

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