quinta-feira, 6 de dezembro de 2007
Eastern Promises
Neste "Eastern Promises" Cronenberg explora o ambiente da máfia russa em Londres. Tal ambiente podia server para um thriller convencional, mas o olho do cineasta canadiano transformou um argumento aparentemente convencional num filme de um romantismo fora do comum. À medida que o filme vai avançando vamos sendo confrontados por uma fábula brutalmente negra sobre um amor impossível que acaba por centrar a narrativa do filme de um modo impressionantemente crú. O romance impossível e fatalista entre Nikolai (motorista da máfia russa em Londres) e Anna (parteira) é esboçado de uma maneira estranhamente poética. A violência é explorada de um modo hiper realista, bem à Cronenberg e as cenas são todas filmadas sem os típicos clichés deste tipo de filmes. Nota de destaque também para as representações fenomenais de Viggo Mortensen (será que vai ser mais uma vez esquecido para os Óscares tal como aconteceu no papel fenomenal que fez em "A History of Violence"?) e de Naomi Watts que são também acompanhados de um elenco secundário com grandes representações que transformam "Eastern Promisses" num dos GRANDES acontecimentos cinematográficos de 2007. Obra-prima!
segunda-feira, 19 de novembro de 2007
Por onde começar?
Já lá vai o tempo em que se vulgarizaram os Blogs, em que eram fontes de discussão e análise politico-social. Já não será assim tanto. A proliferação de opiniões (blogs), a globalização da informação, levou a uma maior dispersão de opinião e a uma maior especialização da informação disponível. De facto é uma potencial enorme aquele com que agora deparamos cada vez que iniciamos o browser. Essa enorme diversidade faz com que cada vez mais nos especializemos em algo, procuramos blogs especializados em música, política, desporto, etc... mais dentro das áreas que nos despertam interesse vemo-nos obrigados a "sinalizar" através de um feed o que verdadeiramente nos importa. Poderíamos dizer que indo sempre aos mesmos sítios da net nos arriscamos a deixar passar todo um mundo ao nosso lado sem sequer reparmos nisso.
A verdade é que precisamos de escolher, de seleccionar o que queremos, ou melhor, sobre o que queremos saber. Não temos tempo para mais.
A especialização tende a criar sub-culturas que se refugiam em informação seleccionada desprezando o geral em detrimento da objectividade, da quantidade infinita ao que realmente lhes interessa.
Não gosto das especializações, não acredito que seja muito bom saber tudo acerca de algo e não se saber mais coisa nenhuma. Além disso todos sabemos o quão fastidioso pode ser encontrar um interlocutor que sabe só de uma coisa... (faz-me lembrar um jantar que tive em casa de uma ex-namorada, estudante de medicina, em que só se ouvia falar de gestos médicos... ainda bem que fiquei perto da televisão...).
Sou um pouco como os gregos e por arrastamento como os homens do renascimento, que acreditavam que o Homem para ser completo tinha que saber de várias matérias e o mais profundamente possível sobre cada uma delas.
Acrescento só que devemos aprofundar uma ou duas para nos podermos deliciar consoante os nossos gostos pessoais e/ou prazeres mais íntimos.
Falarei aqui do que me apetecer, foi isso que me foi pedido, por isso escreverei desde vulgaridades (como é o caso), à pesca, política, desporto, música, cinema, etc...
O espírito que presidiu à criação deste espaço foi o de disponibilizar um espaço multi-facetado onde possamos descobrir um pouco mais sobre várias coisas. Veremos se atingiremos os portos de chegada porque a partida foi calma e serena e mar apresenta-se-nos calmo isto apesar da bruma ao fundo no horizonte.
quinta-feira, 8 de novembro de 2007
Compilação do ano
Todos os anos saem para o mercado mil e uma compilações. Na era em que vivemos em que a música electrónica, especialmente em terras europeias, é altamente popular tornar-se muitas vezes difícil conseguirmos separar as verdadeiras Compilações de meras complicações. Basicamente o truque muitas vezes passa por procurarmos por aquelas editoras que sabemos que nos vão garantir à partida trabalhos de qualidade, ou então por DJ's que acompanhamos com algum cuidado e que sabemos que à partida não nos vão desiludir. Qual o grande problema disto? É que na prática muitas vezes não acontece. É cada vez mais frequente conseguirmos ter a sorte de ouvir algo a que possamos chamar de fresco, de inovador, algo que seja mais do que um mero ajuntamento e programação de boas faixas. Afinal isso qualquer dj minimamente talentoso faz. Felizmente há sempre excepções à regra. Não deixa de ser curioso que apesar de muitos novos talentos terem surgido no Djing mundial nos últimos anos, os grandes motores da reinvenção musical continuam a ser alguns daqueles que os media mainstream de música electrónica denominam de Superstar DJs (expressão mais panasca, mas enfim!). Nesse lote surge frequentemente um nome, John Digweed (deve ser das poucas coisas em que os media mainstream de música electrónica acertam! lol), e por algum motivo será.
Neste terceiro volume da série "Transitions" Diggers ("nick" pelo qual John Digweed é carinhosamente apelidado pelos seus mais fieis fãs por todo o mundo) volta a dar-nos um estalo na cara e a provar a muita gente que deu o Progressive House como estagnado, que a scene está tudo menos morta e que mais uma vez ele é o grande motor da reinvenção deste género (diga-se também de modo justo que a par do seu amigo Sasha).
Aquando do lançamento desta sua nova compilação em Setembro Digweed apresentou-o da seguinte maneira:
Musically speaking, I've been shifting through the gears over the series," he says "and we'’re now approaching top speed. This mix still represents an immediate snapshot of my favourite tunes and producers, but it's also about that specific energy you get at 3 or 4am at the best clubs or festivals around the world (...) Running the tracklist up so high was a conscious decision (...)it allowed me to generate that energy and atmosphere, which I further reinforced by creating exclusive edits.
A maneira como o apresentou parece simplista, mas quando perdemos 78minutos da nossa vida a ouvir esta compilação percebemos facilmente que é muito mais do que isto. Cada uma das 2o faixas desta compilação levou com um toque mágico, com edits meticulosamente trabalhados e que nos vão dando contínuas e falsas sensações de passagens ao longo de toda a viagem musical, transformando estes 78 minutos numa viagem épica simplesmente fenomenal. Ouvir esta compilação saltando da faixa 3 para a 8 ou da 2 para a 7 no leitor de cds não vale a pena. Para se "perceber" esta lição musical tem que se ouvir religiosamente todos os segundos da compilação.
A viagem musical começa com a nova faixa do seu amigo de longa data Sasha, denominada de "Coma" seguindo caminhos bem melancólicos e melódicos com Marc Marzenit "Spheere" e Sweet N Candy " partidas e editadas de uma forma absolutamente genial com Lawrence 'Along The Wire' (Superpitcher Mix). Quando pensamos que o ritmo irá continuar neste toada, aos 17 minutos e no meio destes edits referidos o ritmo começa a ganhar outra alma e forma. Daqui para a frente sobresaiem especialmente momentos brilhantes como a faixa Daniela Stickroth – Chest In The Attic editada com um toque melódico a transportar-nos para aquelas melodias completamente típicas do que apelidávamos de som de "rave" nos anos 90. Este espírito musical de "rave" vai-nos acompanhando no resto da compilação através de magistrais edits que vão ajudando a dar outra forma a sons predominantemente progressivos mas influênciados por minimal e por tech-house. Last but not least, quando damos por ela estamos a chegar ao fim da compilação e aqui Digweed volta a brindar-nos com outro momento literalmente do outro mundo, fazendo uma das sequenciações mais geniais que alguma vez ouvi na minha vida, entre a faixa Umek "Ricochet Effect" e a divinal "Save Me." de um dos novos talentos no campo da produção que John descobriu: Guy J. Aqui ouvimos literalmente estas duas faixas a fazer "amor" e a fundirem-se numa só de um modo absolutamente incrível só ao alcance de puros génios como John Digweed.
Concluindo, esta compilação é uma pura masterpiece! É mais do que uma compilação, é um Acontecimento! Obrigatório para qualquer fã que se preze de música electrónica. Quem não ouvir isto não faz ideia da dimensão por trás deste trabalho, pois o que aqui ouvimos é um processo de 3 anos em que Digweed reinventou-se a si prórpio e ao movimento Progressive. Estamos simplesmente na presença de um exemplo de dedicação ímpar para com o movimento electrónico. Digweed é daqueles Djs que podemos dizer que ditam "modas" musicais em vez de as seguirem, e isto mais do que nunca, faz toda a diferença.
Classficação:10/10
Welcome to...
Vou falar de um artista e de produções que marcam a minha vida de melómano e amante de música, sobre o melhor álbum deste ano e de muitos que se seguirão, com certeza.
Para começar seja feita a devida referência ao género musical em questão, o Dubstep, para quem ainda não está a par da situação digamos que é o mais recente híbrido da música britânica, o UK Garage que tantas diferenças e cruzamentos valiosos nos tem oferecido nas últimas décadas, o Dubstep é um descendente directo do 2-step e com influências nas vertentes Dub (originária da Jamaica), além disso anda muitas vezes de mão dada com o Grime e consegue ir buscar influências aos mais diversificados panoramas, nomeadamente o musical.
É por essa razão que o género em si é uma mescla de sonoridades e consegue soar de formas tão amplas e distintas entre si, a originalidade e a apetência pessoal de cada produtor pode tornar o Dubstep numa enorme fonte de espectros musicais, existe uma enormidade de influências no Dubstep, desde o facto de se aproximar aos jogos do gameboy (sonoridades míticas dos vídeo-jogos) aos traços obscuros de Burial, dos wobblers que englobam os sub-graves mais poderosos e linhas de baixo quase ressonantes, das produções declaradamente com influências no Techno actual às influências Dub Reggae, tudo é permitido.
Burial é um dos ícones maiores da cena, das figuras de proa no que toca a produtores e mesmo não obstante desse facto é uma figura desconhecida às massas - tudo o que se sabe até aqui é o facto de ser proveniente de Londres - uma identidade completamente inócua aos nossos olhos, esse pormenor torna a sua figura ainda mais contundente e os sons sons mais misteriosos e antagónicos.
O seu primeiro álbum homónimo lançado às feras em 2006, é uma das peças fundamentais para se compreender a expansão da música no século XXI, é um álbum que marca quem se deixa envolver e uma lufada de ar fresco para a música em geral, seria complicado então exceder o valor incalculável do seu primeiro álbum mas à segunda chamada Burial conseguiu provar o porquê de ser único e exceder todas as expectativas, mais uma vez com o selo da editora Hyperdub (editora de Kode 9).
Já antes deste Untrue, Burial tinha dado um sinal de aviso com a não menos fenomenal Unite, faixa incluída no primeiro Volume da compilação Box Of Dub (Dubstep and Future Dub) com a chancela da inconfundível Soul Jazz Records e ainda Ghost Hardware EP (Hyperdub), depois de suavizar as mentes mais excitadas foi então tempo para lançar o mote para o seu segundo registo de originais, já muito antes da notícia que 5 de Novembro seria a data prevista para o lançamento oficial do álbum crescia a expectativa em redor de Untrue, acaba assim por ser um dos mais álbuns mais antecipados deste ano e com certeza (na minha opinião) o melhor álbum de 2007... e de muitos que virão num futuro longínquo, este é um álbum de uma vida.
As sonoridades deste autêntico artista são um verdadeiro objecto de estudo, momentos de reflexão, verdadeira antologia épica, sonoridades etéreas mas ao mesmo tempo promiscuas, agridoce no sabor que nos deixa ao escutar estas frequências dotadas do poder de alternar sentimentos e sensações.
A musicalidade envolvente e cativante a todos os níveis, uma colecção de sons explosivos com energia a rodos em contradição com momentos rudes como a vingança, que se serve fria, o som de Burial é tudo isso e muito mais, muito provavelmente complexo para ser dissertado em análise por um simples mortal pois o seu som atinge um patamar distante mas ao mesmo tempo muito urbano e recorrente.
O novo álbum é composto por autênticas pérolas conectadas entre si com certeiros interlúdios devastadores, a vocalização manipulada e aguçada, os elementos complexos mas que muitos deles soam a pormenores diários que vivemos no nosso quotidiano faz destas faixas uma mistura explosiva de ambientes apurados.
Basta ouvir com atenção faixas com texturas várias como Archangel, Untrue, Homeless ou Raver para entender a especificidade da composição, basta escutar atentamente os interlúdios como In Macdonalds, Endorphin ou UK para compreender a aflição e intensidade do que é transmitido, uma escuridão iluminada. Na verdade todo o álbum, no seu todo, é genial e bem estruturado, sinal disso mesmo é o facto de o single Ghost Hardware surgir ainda melhor agora do que aquando do seu lançamento em EP.
Complexo, estruturado e envolvente, ninguém produz Dubstep - e principalmente música - como esta verdadeira criatura obscura em fase de ascendência astronómica.
Só pode ser descrito como devastador, único, envolvente e poderoso, o álbum deste ano e para mim um dos álbuns deste século e consequentemente da minha vida.
Por último e para que possam ouvir algumas das suas produções deixo aqui duas ligações para o Youtube, poderão escutar dois dos singles deste Untrue, Archangel e Raver.
Archangel
Raver
Cos once upon a time its you that i adored
in In Macdonalds